quarta-feira, 25 de julho de 2012

B’nai B’rith celebra 80 anos de educação e defesa dos Direitos Humanos no Brasil

Entidade judaica, fundada há 169 anos, é uma das mais antigas do mundo na promoção dos direitos da pessoa; Selo Comemorativo marcará data dos seus primeiros 80 anos no Brasil.

A B’nai B’rith (Filhos da Aliança, em hebraico), principal entidade judaica dedicada aos Direitos Humanos, com presença em mais de 50 países, celebra, em 2012, 80 anos de atividades no Brasil. Para comemorar oito décadas de intenso trabalho pela justiça social e disseminação da cultura de paz, anuncia suas próximas atividades, com destaque para o lançamento de um Selo Comemorativo e, ainda nesse semestre, a inauguração do Instituto Shoah de Direitos Humanos – ISDH.

Fonte: Notícias da Rua Judaica

A cerimônia de obliteração do Selo Comemorativo ocorrerá em Curitiba, no próximo dia 10 de agosto. Autoridades políticas, dirigentes comunitários, representantes dos Correios e personalidades religiosas devem participar do evento, que ocorrerá nas dependências do Centro Israelita do Paraná, salão de entrada da Sinagoga Beith Yaacov (Rua Coronel Agostinho de Macedo, 248, no Bairro Bom Retiro), às 15h. Antes da cerimônia, interessados também poderão fazer visitas guiadas às dependências do Museu do Holocausto, recentemente inaugurado em Curitiba.

“Este selo ultrapassa o valor de face impresso em pequeno pedaço de papel, pois contém uma mensagem que sintetiza a incansável labuta de uma instituição de voluntários em prol da justiça social (tzedaká, em hebraico), da gênese e propagação da harmonia, assim como da beneficência em defesa de um mundo melhor (tikun olam, em hebraico)”, afirma Abraham Goldstein, Presidente da B’nai B’rith no Brasil.

Centro de pesquisa e educação

O Instituto Shoah de Direitos Humanos – ISDH, que será aberto a toda sociedade nos próximos meses, terá como missão pesquisar, informar e educar contra o racismo, a xenofobia e o negacionismo que, nesses últimos anos, têm proliferado pelo mundo, inclusive no Brasil. Tendo o Holocausto como referência histórica, atuará em prol da cultura de paz e da coexistência social, de forma a valorizar a diversidade que compõe a nossa sociedade. Terá sede em São Paulo, na Rua Caçapava, 105.

O ISDH surge como um departamento da B’nai B’rith do Brasil e ocorre em parceria com o Laboratório de Estudos da Etnicidade, Racismo e Discriminação – LEER, da Universidade de São Paulo, coordenado pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro. Esse laboratório abriga o projeto Arqshoah- Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, cujo site promoverá, em conjunto com o ISDH, conhecimentos essenciais para a construção da história e memória dos sobreviventes do Holocausto radicados no Brasil, além de sua ação educativa.

“A educação, o alerta e a participação ativa da sociedade são fundamentais para que o mundo não passe outra vez por atrocidades já vividas no passado. O Instituto surge para dar continuidade e ampliação ao processo de educação e construção de uma cultura de paz. O fato de poder contar com o precioso arquivo digital do Arqshoah é de extrema importância para que o conhecimento chegue a todas as regiões do Brasil e do mundo globalizado”, diz Goldstein.

O uso do termo Shoah, em hebraico, tanto para compor o nome do Instituto como do Arquivo Virtual, não se faz de forma aleatória: funciona como uma palavra-chave para nos fazer lembrar, sempre, que o Holocausto foi um genocídio singular na história da humanidade. Não apenas nos remete ao extermínio de mais de seis milhões de judeus pelos nazistas, como também a milhares de ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais, portadores de deficiências, opositores ao regime das mais diversas nacionalidades, dentre outras tantas vítimas da intolerância.

A celebração dos 80 anos da B’nai B’rith no Brasil também será marcada por um ciclo de cursos, palestras e seminários direcionados aos educadores de escolas públicas e particulares de diversas cidades, abordando o ensino da história e da memória do Holocausto em defesa da democracia e cidadania. Essas estratégias – abertas a parcerias com instituições nacionais e internacionais -, visam, numa ação conjunta e persistente, promover a defesa dos Direitos Humanos e da paz.

Sobre a B’nai B’rith

Fundada em Nova York, em 1843, a B´nai B´rith é uma das maiores e mais antigas organizações humanitárias, de ação social e de promoção dos valores da justiça social e construção de um mundo melhor. Com perfil apartidário, tem foco na atuação contra o racismo, o antissemitismo e toda espécie de discriminação e cerceamento de liberdades.

Presente em mais de 50 países, tem por base ações educacionais, de comunicação e de diálogo inter-religioso para a construção da cidadania e respeito à democracia e à diversidade. Também atua na prestação de serviços sociais dentro e fora da comunidade judaica, de acordo com os mais elevados princípios da humanidade. Como Organização Não Governamental (ONG), é membro da Organização das Nações Unidas (ONU), Unesco e vários outros organismos mundiais nas áreas cultural e assistencial. A entidade também apoia e promove o Estado de Israel em sua missão de contribuição à humanidade e inserção no contexto das Nações.

A organização se estabeleceu no Brasil em 1932, quando fundou a sua primeira loja - José Mendelsohn – em São Paulo. Prestou apoio a imigrantes, antes e depois da Segunda Guerra, auxiliando-os na busca por moradia, trabalho e adaptação à nova realidade. Também teve papel importante na atuação contra o antissemitismo no Brasil. Salvou vidas e resgatou presos durante ditaduras militares, procurando preservar os direitos individuais e coletivos na salvaguarda de princípios éticos e morais. Desde então, tem contribuído com a criação e o aperfeiçoamento de leis nacionais contra o racismo e em defesa dos Direitos Humanos.

Dessa filosofia decorre uma série de programas de relacionamento para toda a sociedade, o incentivo permanente à fraternidade, ao diálogo inter-religioso, a educação democrática e ao trabalho social, incluindo parcerias com diversas instituições brasileiras e internacionais. Além de São Paulo, a entidade, atualmente, tem sedes no Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.

Lia Bergmann - Assessora de Direitos Humanos e Comunicações da B´nai B´rith do Brasil

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Curitiba recebe Diálogo Catolico Judaico

por Aline Cambuy/ Moema Zuccherelli

XVII Assembleia Nacional será realizada na capital paranaense nos dias 23 e 24 de outubro

Nos dias 23 e 24 de outubro, Curitiba sedia a XVII Assembleia Nacional do Diálogo Católico-Judaico. A Assembleia é realizada a cada ano em uma capital brasileira. A última vez que passou por Curitiba foi em 1998. O tema desta edição será "Judaísmo e Catolicismo, desafios diante do avanço científico".

O Rabino Pablo Berman, da Comunidade Israelita do Paraná, ressalta que a base para a compreensão entre as diferentes tradições religiosas é o diálogo e cada uma dessas tradições são diferentes formas de conhecer a Deus. "O abraço das religiões precisa da singularidade de cada religião, sua riqueza de bagagem histórica e cultural. Aí está a importância deste encontro, nesse abraço, nesse diálogo".

"Este encontro é muito importante, pois é por meio do diálogo que surge o conhecimento e o entendimento. Todas as religiões pregam amor, respeito ao próximo e justiça social e, se todos nos uníssemos em torno desses preceitos, não haveria guerras "santas", preconceitos e mitos. Espero que esta iniciativa traga luz e compreensão para todos", acrescenta a Presidente da Comunidade Israelita do Paraná, Ester Proveller.

Para o Presidente da Federação Israelita do Paraná, Manoel Knopfholz, nos dias atuais o diálogo é fundamental, na medida em que, cada vez mais, o ser humano exerce um individualismo exacerbado, fruto da competitividade, excesso de tecnologia e culto ao consumismo desenfreado. "O mundo ocidental está alicerçado na civilização e nos fundamentos judaicos-cristãos. São religiões simbióticas e irmanadas que, em todas as fases da História da humanidade, tem fundamentado condutas, estabelecido parâmetros, mas, acima de tudo, reoxigenando a fé. As duas possuem convergências, especialmente na edificação humana. O Homem está se distanciando de sua humanidade. Assim, todo e qualquer movimento que vise resgatar os valores humanos é válido. O diálogo é um deles. Aliás, rico e oportuno."

De acordo com Leon Knopfholz, presidente da B'nai B'rith no Paraná, esse encontro reunirá diretores de escolas católicas, lideranças religiosas e políticas, estudantes e interessados no tema. "O diálogo aproxima os católicos e judeus, demonstrando assim que vivemos em uma época onde as diferenças e preconceitos não são mais aceitos e as boas relações entre as religiões são fundamentais".

Para o professor e especialista em judaísmo Antonio Carlos Costa Coelho, um dos coordenadores do evento, estamos caminhando para a superação de um afastamento histórico de dois mil anos. "Entre católicos e judeus existe 80% de semelhança e 20% de diferença e, é essa diferença que deve ser valorizada, pois ela enriquece cada uma das comunidades". Coelho explica que o Diálogo é uma maneira de repercutir o tema. "Nos últimos 15 anos a sociedade mudou muito. Além da globalização, a legislação também contribuiu para a redução do preconceito e discriminação".

A abertura da XVII Assembleia Nacional do Diálogo Católico-Judaico será no dia 23 de outubro, às 19h, no Studium Theologicum (Av. Presidente Getulio Vargas, 1193). Na ocasião, será realizada a Conferência "Bioética Judaica e Católica", uma exposição crítica feita por Dr. Cícero de Andrade Urban e Rabino Michel Schelesinger.

O segundo dia do evento (24) é reservado aos trabalhos da Comissão e acontecerá a partir das 9h, no Centro Israelita do Paraná (Rua Cel. Agostinho Macedo, 248. Bom Retiro). O Rabino Pablo Berman e o Padre Jaime Sánchez Bosch farão a leitura e interpretação de textos bíblicos sob as óticas judaica e católica. Na sequencia, será elaborada e agenda da Comissão Nacional do Diálogo Religioso Católico-Judaico para o ano de 2012.

Dado ao caráter e ao local do evento, a comissão se preocupou em fixar um número de convites a pessoas que possam contribuir com o espírito do dialogo inter-religioso.

Também participam do encontro o presidente da B'nai B'rith nacional, Abraham Goldstein, representantes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), rabinos de São Paulo e Rio de Janeiro.

SERVIÇO
XVII Assembleia Nacional da Comissão do Diálogo Católico- Judaico
Data: 23 e 24 de outubro de 2011 - Curitiba
Tema: JUDAÍSMO E CATOLICISMO: DESAFIOS DIANTE DO AVANÇO CIENTÍFICO

PROGRAMA
23 de outubro
Local: STUDIUM THEOLOGICUM - Avenida Getúlio Vargas, 1193 - Rebouças.
17h30 - Recepção
19h - Abertura:
Oração
Falas de representantes judaicos e católicos
19h30 - Conferência:
Bioética Judaica e Católica (exposição crítica), Dr. Cícero de Andrade Urban e Rabino Michel Schelesinger.

24 de outubro: (reservado aos trabalhos da Comissão)
Local: CENTRO ISRAELITA DO PARANÁ
Rua Coronel Agostinho Macedo, 248, Bom Retiro.
9h - Recepção
9h30 - Um Mesmo Problema Sob Dois Olhares (leitura e interpretação de textos bíblicos sob as óticas judaica e católica)
Rabino Pablo Berman e Padre Jaime Sánchez Bosch
11h - Agenda 2012
Elaboração da agenda da Comissão Nacional do Diálogo Religioso Católico-Judaico para o ano de 2012
12h30 - Almoço

Fonte: Assessoria de Imprensa Lide Multimídia

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Novas Gerações do CJL debate a relação entre judeus e católicos

Jack Terpins, Dom Pedro Scherer e Rabino Michel Schlesinger. Foto: Fisesp

Ontem (28/7), o Programa de Novas Gerações do Congresso Judaico Latino-Americano- CJL, com a presença de seu presidente, o brasileiro Jack Terpins, e de um representante do grupo vindo especialmente para a ocasião, Javier Mutal, organizou uma nova atividade, no Clube ‘A Hebraica’.

Os convidados foram Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e o Rabino Michel Schlesinger, Rabino da Congregação Israelita Paulista – CIP, que falaram sobre a atual relação da Igreja Católica com a comunidade Judaica, tanto no Brasil como no mundo.

A noite foi aberta pelo coordenador do Programa de Novas Gerações no Brasil, Marcelo Secemski, que deu às boas vindas a todos e por Terpins, que lembrou que ele próprio, o rabino e o Cardeal já estiveram juntos no Mèxico, em um encontro da maior importância para o diálogo inter-religioso, e que essa é uma premissa do CJL. Também, enalteceu a liberdade que há no Brasil de cada optar por seguir sua fé e professá-la livremente.

Em seguida, a palavra foi dada a Javier Mutal, que explanou sobre o Programa de Novas Gerações, desenvolvido em vários países da América Latina,e que tem por objetivo incentivar e formar novas lideranças, a partir da constante capacitação de jovens em seminários e cursos diversos no País e Exterior e sua participação e em sessões de organismos internacionais, palestras com personalidades do mundo político e comunitário, lideranças etc.

O Rabino Michel iniciou com um retrospecto dos laços de trabalho conjunto entre a Igreja Católica e os esforços nesse sentido, lembrando que no Brasil, em fevereiro de 1981 foi criada a Comissão de Diálogo Inter-religioso, e que atua, basicamente, em três frentes, a saber: o diálogo institucional, o teológico para viabilizar estudos de conhecimento mútuo sobre cada fé, e como não poderia deixar de ser, as ações conjuntas entre elas.

O Cardeal reafirmou as palavras do rabino, e destacou que o Diálogo tem uma longa e frutuosa história. Disse ele: “Temos um afeto e proximidade ao povo de Israel e à comunidade judaica e à sua sabedoria”. E concluiu: “Que este Encontro sirva para a valorização para nossa herança e tarefa comum”.

Ambos, apostaram no conhecimento das crenças, costumes, história, para incentivar a harmonia entre os seres. “Que possamos sempre promover ocasiões de conhecimento e diálogo. Isso é o que permite se espantar os fantasmas”, concluiu Dom Odilo.

Após uma sessão de perguntas, o Rabino Michel encerrou a noite, citando Amos Oz, e no mesmo tom, reforçou que temos que procurar o que nos une.

Fonte: Fisesp

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Rabino Michel na 49ª Assembleia Geral da CNBB

Rabino Michel Schlesinger com o Dom Raimundo Damasceno. Foto: Fisesp


O rabino Michel Schlesinger (CIP) foi convidado para transmitir uma mensagem aos bispos reunidos em Aparecida por ocasião da 49ª Assembléia Geral da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), que acontece entre os dias 4 e 13 de maio.

“É uma oportunidade para avaliar de forma corajosa as conquistas e desafios dos 30 anos de Comissão Nacional de Diálogo Católico-Judaico”, afirmou o rabino sobre a iniciativa, criada em fevereiro de 1981.
Leia a mensagem na íntegra:
Shamai e Hilel discutiram incontáveis assuntos legais por muitos anos. Em certo momento, conta o Talmude, saiu uma voz do céu e declarou: “Elu VeElu Divrei Elohim Chaim VeHalachá KeBeit Hilel”, “estas e também aquelas são palavras do Deus vivo, no entanto a Lei será determinada conforme a opinião de Hilel”.
Nossos sábios se perguntaram: se ambos possuem razão, então qual o critério para se determinar a lei? E a resposta é maravilhosa. Hilel mereceu que a lei fosse determinada da sua maneira porque sabia dialogar com elegância. Citava a opinião do seu oponente sempre com respeito, antes mesmo de citar seu próprio pensamento.
O Jubileu de Ouro do Concílio Vaticano Segundo e da Declaração Nostra Aetate, nos convidam a uma profunda reflexão sobre as conquistas e desafios do diálogo católico-judaico.
Nos últimos cinqüenta anos, sociedades de todo o mundo organizaram grupos de diálogo e aprofundaram o trabalho de conhecimento mútuo. No Brasil, a Comissão Nacional de Diálogo Católico-Judaico completou, no último fevereiro, trinta anos de existência trabalhando em quatro diferentes esferas: a teológica, social, pessoal e institucional.
Religiosos católicos e judeus se reúnem com freqüência em diversas cidades brasileiras para estudar a tradição religiosa do outro, traduzindo em pesquisa e análise o empenho de aproximação teológica. No âmbito social, unimos forças para promover causas comuns como a ética, a consciência ambiental, a segurança, a justiça social, entre tantas outras. Vínculos pessoais entre líderes de ambas as comunidades foram estabelecidos e são constantemente fortalecidos. Fiquei pessoalmente comovido com a escolha de Dom Raymundo Damasceno como presidente da CNBB porque ele é um promotor incansável do diálogo católico-judaico, assim como o amigo Dom Odilo Pedro Scherer e o irmão Padre José Bizon.
Finalmente atuamos para aproximar as instituições da comunidade judaica como a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e as diversas Federações Israelitas das instituições católicas como a CNBB e o Celam.
O desafio que nos aguarda para os próximos cinqüenta, em minha opinião, é muito claro. Precisamos fazer com que o diálogo inter-religioso atinja também nossos congregantes. O membro comum de nossas comunidades ainda não conhece o trabalho inter-religioso e, por vezes, propaga preconceitos por total ignorância da natureza daquele que lhe é diferente.
Muitas são nossas semelhanças, ao mesmo tempo, temos algumas convicções distintas. Assim como Shamai e Hilel, não seremos julgados pela verdade de nosso discurso, porque cada religião tem sua verdade, mas pela elegância com que conduziremos as discussões.
Obrigado pelo convite carinhoso e Shalom.
Rabino Michel Schlesinger

domingo, 31 de janeiro de 2010

O Diálogo Judaico-Cristão no Momento Atual, por Rabino Alexandre Leone

Rabino Alexandre Leone.  
Foto: Blog Missão Entre Nós...
Faz alguns dias, no domingo, dia 17 de janeiro passado, o papa Bento XVI visitou a Grande Sinagoga de Roma repetindo o gesto feito 24 anos atrás por seu antecessor o papa João Paulo II. Naquela ocasião, em 1986, era a primeira vez que um papa visitava oficialmente uma sinagoga, marcando assim um passo a mais na direção do dialogo fraternal entre cristãos e judeus. O gesto de João Paulo foi, em muitos aspectos, a apoteose deste dialogo travado principalmente desde a segunda metade do século XX.

Vale a pena lembrar que judeus e cristãos nem sempre travaram um dialogo fraterno entre si. Na Idade Média, em geral, o diálogo se dava de  modo bem diferente, na forma da

disputatio, isto é da disputa teológica, como aquela ocorrida em Barcelona no século XIII entre Nahmanides, o principal rabino da cidade, e vários teólogos cristãos. Discutia-se também em tribunais inquisitoriais e de libelo de sangue. Discutia-se, mas não se conversava. É verdade que um outro tipo de dialogo, mais construtivo, também ocorreu como, por exemplo, a menção feita por Tomás de Aquino em sua obra a rabi Moisés (Maimônides) e no século XV os contatos entre os filósofos Eliah Delmedigo e Picco Della Mirandolla. Mas essas eram exceções à desconfiança que reinava em ambos os lados.
O ponto de mutação desta situação está ligado à Shoá (em hebraico genocídio) perpetrado contra judeus, ciganos e outros grupos pelos nazistas e seus colaboradores na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial e que é eufemisticamente chamado de Holocausto. Como escreveu Emmanuel Lévinas, em um fabuloso ensaio chamado Une Religion d´Adultes, os judeus conheceram na própria carne durante aqueles dias a experiência da paixão, conforme narrada no capítulo 53 de Isaias e pintada de modo expressivo por Chagal. Naquela época que se vivia esta experiência, cuja amplitude religiosa marcou para sempre o mundo, protestantes e católicos – laicos, padres e monges – salvavam crianças e adultos judeus por toda a Europa, acolhendo-os e estendendo-lhes as mãos, mesmo ao custo de suas próprias vidas. É interessante que o dialogo tenha sido travado entre pessoas antes que pelas instituições.
Nos anos cinqüenta e sessenta o dialogo judaico-cristão começou então a se desenvolver aprofundar. Do lado que cá do Atlântico, nos Estados Unidos, destacaram-se como exemplo de diálogo humanista, religioso e prático as figuras de Abraham Joshua Heschel e Martin Luther King que lado a lado, rabino e pastor, prestaram-se ao papel de liderança simbólica e ombusman ético em movimentos de renovação e crítica à desumanização e a eclipse da razão de nossos tempos. O diálogo prático dos dois chegou ao zênite nos movimentos dos Civil Rights, em prol do direito dos afro-americanos de votar, e do movimento contra a barbárie que era Guerra do Vietnam.

Do lado de lá do Atlântico, um grande passo para o aprofundamento do diálogo está ligado ao Concílio Vaticano II, que procurou renovar espiritualmente a Igreja Católica preparando-a para novos tempos. Um dos vários documentos associados àquele momento foi a declaração “Nostra Aetate” sobre as relações da Igreja Católica com as religiões não-cristãs, onde um destaque especial é dado às relações com o povo judeu. Na busca do diálogo, a Igreja renunciava na prática missão de converter os judeus, possibilitando assim que se criassem condições para surgirem em muitos países comissões de diálogo católico-judaico.

O povo judeu não é uma igreja e não há um corpo de rabinos que tenham autoridade reconhecida sobre todos. Desse modo, a resposta judaica à Nostra Aetate apareceu na forma de documentos assinados por muitos rabinos e estudiosos. Uma primeira tentativa ainda tímida, já nos anos sessenta foi feita por iniciativa dos rabinos membros do consistório francês de tendência ortodoxa moderada. No entanto, um documento de maior peso só foi elaborado e costurado no ano 2000, a declaração chamada Dabru Emet (Dizei a Verdade) assinada por mais de uma centena de rabinos e eruditos de várias
correntes judaicas, desde a ortodoxia moderado, passando pelos massortim (conservativos) até os liberais. Só ficaram de fora os setores mais fundamentalistas, que não reconhecem nenhuma forma de diálogo interno ou externo. O Dabru Emet é uma composição de várias teses que em resumo reconhecem o diálogo fraterno com o mundo cristão.

Recentemente, porém, algumas situações contribuíam para dificultar um pouco o diálogo, situações que fizeram com que muitos nos meios judaicos ficassem desconfortáveis. Alguns exemplos são: a revogação da excomunhão por parte do papa Bento XVI de um bispo que negava publicamente o genocídio nazista, a introdução na liturgia da missa da Páscoa de um trecho que fala da conversão dos judeus e, finalmente, os recentes passos que estão sendo dados para a beatificação e futura canonização do papa Pio XII, que durante a Segunda Guerra Mundial, não condenou publicamente o genocídio nazista. Como declarou Riccardo Pacifici, presidente da Comunidade Judaica de Roma, durante a visita do papa à sinagoga, se tal condenação tivesse sido realizada poderia ter o efeito de salvar vidas e que ficará como algo lacunoso em sua memória. Estas situações quase paralisaram os esforços de todos aqueles que, dos dois lados, trabalham pelo aprofundamento do diálogo, cujo símbolo foi a visita feita pelo papa bento XVI à Grande Sinagoga de Roma no último dia 17 de janeiro.

O presidente da Assembléia Rabínica Italiana, o rabino Giuseppe Laras, recusou-se a participar, mas ele ficou sozinho em sua recusa. Quando o papa entrou na sinagoga, rabinos de todo o mundo e lideranças laicas de todo o mundo judaico, com exceção dos setores mais fundamentalistas, estavam lá para dar boas vindas ao papa. Também desta vez estavam presentes lideres muçulmanos moderados europeus, dando uma dimensão mais profunda àquele momento. No final venceu o diálogo.

Precisamos de um diálogo inter-religioso ativo que não busca resolver questões teológicas das diferenças de crenças, mas deve partir de pontos comuns para estabelecer esse dialogo. “Em que base nós pessoas de diferentes compromissos religiosos nos encontramos?” A essa pergunta Heschel respondeu: Em primeiro lugar “nós nos encontramos como seres humanos que têm muito em comum: uma face, uma voz, a presença de uma alma, medos, esperanças, a habilidade de confiar, uma capacidade e sentir compaixão e entendimento, a qualidade de sermos humanos”. A consciência da humanidade em comum, portanto, é a base do dialogo inter-religioso. Judeus, cristãos e membros de outras comunidades religiosas compartilham essa tarefa.

Nosso diálogo inter-religioso deveria não apenas afirmar o humano, mas também buscar superar o niilismo moderno. O propósito da comunicação religiosa entre seres humanos de diferentes compromissos é o enriquecimento mútuo e o aumento do respeito e apreciação, ao invés da desqualificação do outro no que diz respeito às suas convicções com relação ao sagrado. A luta contra a desumanização é a base comum para um movimento de diálogo e de reconhecimento mútuo, uma vez que no caldeirão da sociedade moderna, como escreveu Heschel, “nenhuma religião é uma ilha”. A era das comunidades isoladas já passou e, se bem que cada tradição deve manter sua identidade, a possibilidade do diálogo profundo e da troca de experiências deve ser tentada. Disso depende nosso futuro no século XXI.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Vaticano pode reviver oração que propõe conversão de judeus

Valquiria Rey
De Roma
O Vaticano divulga neste sábado um decreto que prevê o retorno das missas em latim e que pode reintroduzir aos rituais católicos nas igrejas uma polêmica oração que pede a conversão de judeus ao catolicismo.

A probabilidade do retorno da oração, que havia sido colocada de lado da liturgia católica na década de 1960, ganhou repercussão na imprensa e preocupa grupos do diálogo entre cristãos e judeus, que avaliam a medida como um retrocesso da postura atual do Vaticano em relação ao Judaísmo.

“Espero que seja um alarme injustificado”, disse à BBC Brasil Riccardo Di Segni, rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma. “Espero que não aconteça nada disto, que sejam apenas rumores.”

No Vaticano, ninguém comenta o assunto. Há apenas uma declaração de que não é possível confirmar ou desmentir qualquer informação, porque o documento assinado pelo papa Bento 16 é considerado secreto até o momento da publicação. Ao certo, sabe-se apenas que o papa quer permitir o retorno da missa em latim.

A parte do missal que gerou a polêmica diz: "Oremos pelos judeus, para que Deus retire o véu que cobre seus corações e lhes faça conhecer nosso senhor Jesus Cristo".

Luigi Accattoli, vaticanista do jornal Corriere della Sera, aposta na possibilidade de que o papa coloque no texto uma cláusula excluindo a oração, que, teme-se, possa prejudicar as relações entre católicos e judeus.

“Em nome da sua nacionalidade e da militância que teve no passado na juventude nazista, torço para que o papa Bento 16 tenha sensibilidade suficiente para excluir estes versos”, afirmou o teólogo Brunetto Salvaranni, especialista em diálogo cristão-judaico. “Mas se isto realmente acontecer, será muito grave e provocará grande abalo no diálogo entre judeus e católicos”.

O texto do papa sobre o retorno da missa em latim está pronto há vários meses. Mas seu lançamento vem sendo adiado sem maiores explicações.

No final do mês passado, Bento 16 esteve reunido com um grupo de 25 bispos, quando foram distribuídas as primeiras cópias do documento e da carta que será enviada aos episcopados de todo o mundo.

Segundo alguns bispos que participaram do encontro, o papa foi muito claro ao dizer que a antiga forma de celebrar a missa passará a ser o novo rito nas igrejas.

O documento do pontífice, conhecido como Motu Proprio Summorum Pontificum, dará mais liberdade para que os padres celebrem missas em latim.

Hoje, eles precisam pedir autorização às dioceses para celebrá-la e, na maioria das vezes, os bispos se recusam a dá-la.

Há uma grande expectativa - e um grande mistério - em torno do teor da carta explicativa do papa que acompanhará o documento.

Em Roma, especula-se que, além de agradar os tradicionalistas, ela possa trazer críticas a sacerdotes carismáticos que avançaram nas celebrações além das determinações do Concílio Vaticano II, com a inclusão de músicas e danças populares.

No caso do Brasil, o exemplo mais notório é o do padre Marcelo Rossi.

O retorno da missa em latim agrada aos tradicionalistas, que rejeitaram as reformas aprovadas pelo Concílio Vaticano II, entre elas a troca do latim pelos idiomas locais na liturgia.

No entanto, o decreto é polêmico entre os defensores das reformas feitas na década de 1960 - que mudaram a postura da Igreja, afirmando o amor de Deus pelos judeus e conclamando o respeito e a cooperação diante dos outros credos religiosos.

À estas alterações é creditada uma melhora nas relações entre católicos e judeus, pois elas dão destaque às raízes judaicas do cristianismo e rechaçam a culpa coletiva dos judeus pela morte de Jesus Cristo.

Os contatos foram intensificadas com o pontificado de João Paulo 2º, que esteve numa sinagogga em Roma, em 1985, visitou Jerusalém e pediu perdão pelos erros dos católicos diante dos judeus.

Na avaliação dos reformistas, a volta do latim poderá incentivar os conservadores a seguir questionando as reformas do Concílio Vaticano II, podendo gerar mais divisões na Igreja Católica.

Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Realizada em Porto Alegre a XIV Assembleia Nacional do Diálogo Católico Judaico

Pela primeira vez com sede no Rio Grande do Sul, a 14ª Assembléia Nacional do Diálogo Católico-Judaico aconteceu em Porto Alegre, entre os dias 17 e 18 de setembro.

No domingo, as atividades foram realizadas na Sinagoga da Sibra, já na segunda-feira, o encontro ocorreu na Casa de Retiros Betânia.

O evento foi organizado por Guershon Kwasniewski, guia espiritual da Sibra, e pelo padre Roberto Paz, coordenador da área da cultura da Igreja Católica. Além deles, também participaram lideres religiosos como dom Oneres Marchiori, padre Jesus Hortel, padre José Bizon, Iehuda Gitelman, da Sinagoga Centro Israelita Porto Alegrense, e o rabino Henry Sobel, de São Paulo.

O primeiro dia de atividades contou com uma mesa redonda, com a presença dos lideres religiosos, o presidente da Federação Israelita do RS Abrahão Finkelstein e o jornalista Jaime Spitzcovsky. Após um coffe break, Spitzcovsky ministrou uma palestra sobre a ética nos meios de comunicação e a necessidade de mobilização da sociedade pela defesa da ética e de valores morais. As cerca de 50 pessoas presentes fizeram perguntas ao jornalista ao final da palestra. As atividades de domingo se encerraram com a apresentação do coral da Igreja São Pedro.

Na segunda-feira, foram realizados os últimos debates que visam manter a união entre as religiões católica e judaica de forma amigável e pacífica, como sempre foi na capital gaúcha.

Fonte: FIRS - Federação Israelita do Rio Grande do Sul